terça-feira, 2 de novembro de 2010

INTOLERÂNCIA X TOLERÂNCIA.



“Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero esse faço.” Rabino Saul –Carta ao Romanos 7:19




É verdade que a intolerância é algo que precisa ser domado, para ser uma realidade precisaremos sempre de um referencial, este é o responsável pela percepção do distanciamento e identificação do rumo (observado a pagina 13), sendo algo que faz o EU perceber o não-Eu e deve ser verificado e trabalhado em todas as instancias da educação, observado-se a ressalva inicial implícita na pagina 1 “ Precisamos sempre de um outro, de um “não eu” para que possamos nos enxergar.

Essa observação é muito importante, porque a nossa forma de educar não nos coloca em status de similaridade e sim de igualdade, desde o que se veste ao que se deveriam comer tudo deve seguir um mesmo padrão,”O estranho, só é estranho, porque não nos é estranho. O estranho nos é familiar no inconsciente.” Isso para não nos causar a estranheza, esse padrão é realmente nefasto no entendimento de construir um ser que dialogue com seus semelhantes, entendendo a diferença e desenvolvendo a tolerância.

Hoje 2 de novembro vemos um exemplo de intolerância (Xenofobia nacional), guardado no ideário brasileiro, cultivado pelo mito da “casa grade senzala” (Gilberto Freyre,1933) que nos toleramos e vivemos bem e pacificamente.

VEJA ABUSOS NO TWITTER SOBRE NORDESTINOS E ELEIÇÃO DA PRESIDENTE DILMA

http://kioshi.blogspot.com/2010/11/xenofobia-no-twitter-contra-nordestinos.html

ATENÇÃO ESSE TEXTO CONTERÁ PALAVRAS DE BAIXO VALOR MORAL.

Jaime Pinsky que fala a respeito dessa questão relacionada ao preconceito que diz mais ou menos assim: "Temos apenas opiniões bem definidas sobre as coisas. Preconceito é o outro quem tem... Mas, por falar nisso, já observou o leitor como temos o fácil hábito de generalizar (e prova disso é a generalização acima) sobre tudo e todos? Falamos sobre “as mulheres”, a partir de experiências pontuais; conhecemos “os políticos”, após acompanhar a carreira de dois ou três; sabemos tudo sobre os “militares” porque o síndico do nosso prédio é um sargento aposentado; discorremos sobre homossexuais (bando de sem-vergonhas), muçulmanos (gentinha atrasada), sogras (feliz foi Adão, que não tinha sogra nem caminhão), advogados (todos ladrões), professores (pobres coitados), palmeirenses (palmeirense é aquele que não tem classe para ser são-paulino nem coragem para ser corintiano), motoristas de caminhão (grossos), peões de obra (ignorantes), sócios do Paulistano (metidos a besta), dançarinos (veados), enfim, sobre tudo. Mas discorremos de maneira especial sobre raças e nacionalidades e, por extensão, sobre atributos inerentes a pessoas nascidas em determinados países. Afinal, todos sabemos (sabemos?) que os franceses não tomam banho; os mexicanos são preguiçosos; os suíços, pontuais; os italianos, ruidosos; os judeus, argentários; os árabes, desonestos; os japoneses, trabalhadores, e por aí afora. Sabemos também que cariocas são folgados; baianos, festeiros; nordestinos, miseráveis; mineiros, diplomatas, etc. Sabemos ainda que o negro não tem o mesmo potencial que o branco, a não ser em algumas atividades bem-definidas como o esporte, a música, a dança e algumas outras que exigem mais do corpo e menos da inteligência. Quando nos deparamos com um exceção admitimos que alguém possa ser limpo, apesar de francês; trabalhador, apesar de mexicano; discreto, apesar de italiano; honesto, apesar de árabe; desprendido do dinheiro, apesar de judeu; preguiçoso, apesar de japonês e também por aí afora. Mas admitimos com relutância e em caráter totalmente excepcional.



O mecanismo funciona mais ou menos assim: estabelecemos uma expectativa de comportamento coletivo (nacional, regional, racial), mesmo sem conhecermos, pessoalmente, muitos ou mesmo nenhum membro do grupo sobre o qual pontificamos. Sabemos (sabemos?) que os mexicanos são preguiçosos porque eles aparecem sempre dormindo embaixo dos seus enormes chapelões enquanto os diligentes americanos cuidam do gado e matam bandidos nos faroestes. Para comprovar que os italianos são ruidosos achamos o bastante freqüentar uma cantina no Bixiga. Falamos sobre a inferioridade do negro a partir da observação empírica de sua condição socioeconômica. E achamos que as praias do Rio de Janeiro cheias durante os dias da semana são prova do caráter folgado do cidadão carioca. Não nos detemos em analisar a questão um pouco mais a fundo. Não nos interessa estudar o papel que a escravidão teve na formação histórica de nossos negros. Pouco atentamos para a realidade social do povo mexicano e de como ele aparece estereotipado no cinema hollywoodiano. Nada disso. O importante é reproduzir, de forma acrítica e boçal, os preconceitos que nos são passados por piadinhas, por tradição familiar, pela religião, pela necessidade de compensar nossa real inferioridade individual por uma pretensa superioridade coletiva que assumimos ao carimbar “o outro” com a marca de qualquer inferioridade. Temos pesos, medidas e até um vocabulário diferente para nos referirmos ao “nosso” e ao do “outro”, numa atitude que, mais do que autocondescendência, não passa de preconceito puro. Por exemplo, a nossa é religião, a do outro é seita; nós temos fervor religioso, eles são fanáticos; nós acreditamos em Deus (o nosso sempre em maiúscula), eles são fundamentalistas; nós temos hábitos, eles vícios; nós cometemos excessos compreensíveis, eles são um caso perdido; jogamos muito melhor, o adversário tem é sorte; e, finalmente, não temos preconceito, apenas opinião formada sobre as coisas. Ou deveríamos ser como esses intelectuais que para afirmar qualquer coisa acham necessário estudar e observar atentamente? Observar, estudar e agir respeitando as diferenças é o que se esperada de cidadãos que acreditam na democracia e, de fato lutam por um mundo mais justo. De nada adianta praticar nossa indignação moral diante da televisão, protestando contra limpezas raciais e discriminações pelo mundo afora, se não ficarmos atentos ao preconceito nosso de cada dia.



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